março 03, 2013

Ultrapasso-me

   Digo, peço, faço. Necessariamente nessa ordem, pois tudo me resta à fazer. Quando digo, sou muda, quando peço, sou invisível e quando faço, a atenção vem crítica e negativiza meus deslizes. E se respondo, sou impaciente, ao me calar, então sou estúpida. Estou debruçando no eterno silêncio, que contudo grita em minha mente. Ao mundo nada falo e dentro de mim, ah, como eu queria que minha voz aquietasse... Meus dramas diários corroem a voz, o gesto e o sentimento que tenta cicatrizar do dia anterior, isso em um processo sem fim.
   Estou mais cuidadosa, repenso minhas palavras diversas vezes até chegar ao ponto em que ficará "leve" razoavelmente, porém enquanto insisto na mesma tecla, encontro os defeitos dela. E desisto de tudo, recomponho, mas deixo de lado novamente. Assim vou perdendo a voz, a vida própria. Perco e não supero, me acumulo de saudades minha, escrevo e transbordo em vão. Em meus passos estão as tonturas como devaneios insistentes e em tentativas de me levantar da cama reconheço o corpo velho de uma alma velha e mente velha, estou idosa com quinze anos. Ultrapasso-me.

Flávia Andrade

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