outubro 30, 2013

Retrógrado

   Caminho retrógrado, para onde está me levando? Há somente espinhos nas rosas que plantei, há somente galhos sem folhas e essa cor ofuscada de fim de outono. Eu poderia tentar encontrar mil motivos alternativos, mas novecentos e noventa e nove seriam por causa desse seu furacão de ideias que me corrói. Inerte em pensamentos que me sobrepõem à realidade e concluindo que estou e sempre estarei iminente ao pressuposto infundido de proeminências, arremessada nas expectativas alheias que fundamentam um espelho de realidade que me encara todas as manhãs, enquanto eu caminho somente para trás. O alvo das especulações e a consequência discrepante rondando cada gatilho de memória, alertando como sirenes o pior futuro. A música toca seu refrão e minha alma acompanha: Is anybody gonna save me?

Flávia Andrade

outubro 29, 2013

O fim do dia

   Esperei você por exatamente vinte e quatro horas. Desde o primeiro segundo da primeira meia noite até o último dos últimos 00:00. Me ausentei para o mundo permanecendo atenta somente ao que você fazia, em nenhum momento preocupou-se em recordar que ontem a saudade esteve mais vasta. Que ontem me recordava tudo o que fizemos exatamente um ano atrás, que ontem chorei ao relembrar o quanto você se esforçou naquele 28 de outubro de 2012 para me fazer sorrir. Esperei você por um dia inteiro, o dia mais doloroso que você uma vez já fez dele o mais mágico. As coisas na minha vida costumam ser bastante irônicas, e poderia considerar a ideia de isso ser também, mas o que me resta sobre ontem é a falta de suas palavras e abraços e as lágrimas que transbordaram quando o relógio anunciou 01:00. Você poderia atrasar alguns minutos, mas nunca atrasou uma hora, as esperanças se findaram naquele instante.

Flávia Andrade

outubro 27, 2013

   Tenho horror aos dias que não vão de acordo com o meu humor. Sóis que não brilham como deveriam em uma manhã alegre e céus que não escurecem diante de uma tragédia emocional. Gosto daqueles dias que de repente anoitecem sombrios quando me decepciono e na madrugada vão apenas aprofundando em melancolia e choram toda a chuva já esgotada de meus olhos.
   Mas a vida é assim, não preciso de pé esquerdo para saber que tudo girará contra mim. Que o sol estará bem diante dos meus olhos queimando-os enquanto eu implorarei pela escuridão e ele se arrastará até o seu último brilho ao se pôr e quando vier a noite, a lua estará tão iluminada... As pessoas com a casa cheia e consequentemente cada cômodo com a luz acesa, os postes terão brilho o suficiente para tornar desnecessário o farol, mesmo assim os carros insistirão em uma claridade alta só para constar. Sinto-me um vampiro.

Flávia Andrade
   Eu gosto do cheiro de cigarro misturado ao seu perfume naquela camiseta branca. Do seu sorriso disfarçado tentando conter a timidez. A gargalhada que guarda para não parecer tão indiscreto, todo esse cuidado de estar sempre certo, mesmo sendo tão errado. Sua gentileza sempre tão presente, esperando qualquer medo para cuidar e dizer "estou aqui". Gosto de você vagando por essas ruas, sempre tão perdido em qualquer pensamento ou mpb, tão desligado, mas me vendo admirar seu jeito e seus defeitos, esse você. Me encanta esse teu encanto junto do teu canto que quer desafinar, mas que se afina por atenção. Gosto desse olhar perdido buscando qualquer resquício de compreensão, essa maneira leve de caminhar a passos firmes fingindo ignorar qualquer rejeição. Gosto desse seu vocabulário, desajeitado tentando se expandir e dizendo coisas tão bobas em meio ao seus ataques de vergonha. Gosto dessa risada ao fim de cada frase como se pedisse para eu rir também. Gosto de você.

Flávia Andrade

outubro 26, 2013

   A vasta escuridão se delicia com o medo
   intimida a luz, faz dela sombra o que temo
   cria lendas, terrores, ficções, inspira o simbolista
   a canção do silêncio, a prece e oração que ecoam da alma aflita
   E devagar da llareira nasce o poeta
   surdamente o suspense lhe penetra
   O fogo ardente relutante cessa ao encerrar da madrugada,
   há somente nódoa no ama-dor e mais nada
 
Flávia Andrade

Outra metalinguagem

   Sinto falta de quem eu era anos atrás. Talvez porque não houvessem tantos "talvez" em meu vocabulário quanto agora. Meus textos eram somente clichês e dengos romancistas, minha apaixonada inocência perpetuava por cada palavra e eu habitava um abismo de emoções intrínsecas ao que me tocava.  Agora sou somente o rancor da vida que paradoxalmente quer viver de verdade.
   Há pessoas que me inspiram no decorrer dessa literavida e assim componho minhas obras sem sabor. Os móveis também têm sua responsabilidade nos textos que se escrevem, eles têm lembranças. Outra parcela de culpa está nos olhares dos estranhos nas ruas, malditos que me instigam ao desejo de ter qualquer poema que se encaixe perfeitamente naquele brilho. Então eu tento compor recordando do que minhas retinas viram.
    Sou um museu literário, me estagno de lembranças que se transbordam nas noites de solidão. Mas ainda me amedronto com o que minhas mão manuseiam a escrever, eu tenho medo do desconhecido, ele faz meu coração acelerar, mas continuo indo ao seu encontro, preciso desvendar. Há uma loucura inerte nisso tudo, mas no fim há sentido. Somente eu posso enxergar?

Flávia Andrade

outubro 25, 2013

A louca

   Ela carregava consigo doses de loucura e percorria o trajeto mais longo para alcançar o vento com as mãos. Queria guardá-lo para um dia voar. Tinha uma teoria habitada por pensamentos que só faziam sentido para si mesma. Era uma dona de razões próprias procurando a liberdade do que ainda lhe afligia. Talvez nunca conseguisse ser extremamente livre, mas tinha a esperança de ser. Somente ser e viver.

Flávia Andrade

Tudo seu é tão céu

   Esperando por sua ligação enquanto o coração suspira devaneado. É como se minha calma mendigasse atenção somente sua e minha raiva se dissipasse no olhar somente seu. Enquanto esse sorriso fugaz no meu rosto se torna infindo quando ouve esse tom de voz que pertence só a você. Há tantas coisas suas guardadas aqui, segredos que deixa escapar em silêncios, confissões que se deleitam nos risos. O pôr do sol de repente pareceu pousar ao nosso lado quando nos falamos da última vez e eu quero outros amanha e anoiteceres ao lado seu, lado que é só meu, lado que é só céu.

Flávia Andrade

outubro 23, 2013

Livro infindo

   Há um vazio nessa folha que deseja se preencher, mas minhas mãos e vocabulário fogem. A metalinguagem é somente o que me resta. Quero escrever sobre o amor, mas ele me angustia. Esqueça, há algo mais profundo no fim de uma reticência...
   Às vezes dói como o diabo pensar em tudo o que poderia ter acontecido, mas por outras vezes ter em mente os “e se...” é confortador. A verdade é que cada pormenor da vida tem dois lados, alguns são paradoxo, outros são somente paralelos. Contudo sempre estaremos entre o céu e o precipício, entre a escolha errante e a certeira decisiva. Nunca saberemos se foi acaso ou destino, se ambos existem ou é somente invenção humana. E nesse exato segundo eu me pergunto se estou do lado certo, amando o correto e me dedicando ao merecedor. Ao mesmo tempo eu não tenho ideia de onde estou psicologicamente, o chão que piso nesse momento não passa da única matéria plana na minha vida.
   Duzentas palavras pareciam o suficiente para deixa-lo. Mas eu voltei, regredi como em todas as coisas que faço. Presa no passado por vontade própria, medo e orgulho. Quantos personagens de best sellers passaram por isso¿ Milhares. Seus autores devem ter sofrido o mesmo. Todos superaram com um ótimo desfecho. Mas eu sou um livro que nunca se finda. E eu não sei superar.


Flávia Andrade

Aquela tarde

   Vi-te naquele veículo mortal que encaminha minha vida ao precipício. Vi-te naqueles olhos nos olhos de quem vem remoçando, enquanto minhas lágrimas derramando entregavam-me a ti mais imatura desde os anos que se passaram e não nos falamos. Eu não conseguia conter meu olhar correndo ávido ao teu encontro e me decepcionava profundamente a cada segundo que via em seu sorriso a pouca diferença que agora faço. Sinto-me um trapo rejeitado pela máquina de costurar, um saco de lixo caído do caminhão. Eu acreditava há alguns anos que éramos uma pessoa só como em poesias romancistas, eu tinha uma percepção literária sobre o que éramos. Nós não éramos nós, éramos laços, fitas envolvidas e coloridas, linhas para se escrever e pregar retalhos. Agora somos... O que somos? Eu pensava que ainda me conhecia, mas você roubou todas as minhas certezas. Não sei quem sou e meu coração despedaçado só permite que meus olhos enxerguem a criatura má que há em ti. Vi-te naquela tarde e suas últimas palavras repassavam em minha mente e doíam como o fogo do inferno. O destino final nunca chegava e meu coração ardia e chorava. Eu me sufocava enquanto você me matava, havia tanta dor e você simplesmente não percebeu.

Flávia Andrade
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