julho 20, 2014

Como se fosse


Se fechei a porta? Não lembro. Já estou a algumas quadras de distância andando apressada como se tivesse lugar para chegar, como se do outro lado você me esperasse com algum café gelado e pedidos de desculpas por me meter nessa loucura, ando e só. A cabeça baixa, braços cruzados e lábios que deixam escapar algumas palavras baixas dos diálogos que planejo. Dessa vez parece não ter ninguém ao redor e figuro na mente sua imagem me esperando com seu jeito de quem pouco se importa, escorado na porta aberta. Aliás, a minha está fechada? Não sossegarei pensando que não, ficarei ao seu lado inquieta se não conferir e tiver certeza, então dou meia volta para que a ocasião não falhe mais do que as possibilidades apontam.
Enquanto isso penso se vale a pena arriscar, certamente vai chover e mal sei o endereço. Parece alguma outra vez que corri descompassada para lugar nenhum e não deu em nada. Pois são coisas que ocorrem em filmes e minha vida é apenas um tumulto.
Ando mais devagar como quem oscila quase desistindo. De longe vejo a porta bem fechada. Paro ali. Mas como quem tem coração no lugar do cérebro, volto a ir.
Sigo para lugares desconhecidos e a chuva começa a me molhar e deixar a situação menos bonita. Apenas ando para não parecer tão idiota como quem está correndo. A idiotice que cometo indo até você sem avisar é algo de conhecimento só meu, então supostamente ainda pareço um pouco mais sábia do que os outros.
Não quero que me veja nesse estado, mas só consigo pensar em te ver, então continuo. Recapitulo diálogos antigos como se fossem quebra cabeça, tento lembrar do dia que você disse "apareça qualquer hora", precisarei dessa lembrança para argumentar e dizer: "três horas da manhã é o que chamo de qualquer hora".
Há tudo para dar errado, mas quero acreditar em uma chance do acaso.
Ia virar para a direita, pensei sobre isso no caminho, mas por descuido ou intuição fui para a esquerda. A terceira casa, provavelmente, por sorte é a sua.
Eu te ligo, digo boa noite e que é pra você ir me ver. Você não está em casa.

Flávia Andrade


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