outubro 28, 2014

Ao que me falta, paciência. Ao que me resta, bom aproveito. Ao que me sacia, apego. Ao que me desagrada, desdém. A quem não gosta de mim, um sorriso. A quem nem gosta ou desgosta, não importa, um beijo a quem me faz bem. Aos problemas, uma piada. Aos desentendimentos e às brigas, uma cama para dormir. Aos fins, inícios. Aos inícios, fé. Ao amor, um brinde. Ao resto, sossego. A tudo o que quero, coragem e ao que não quero, força. Às vírgulas, aposto. Aos pontos, reticências. Ao tempo que me sobra, festas. Ao tempo perdido, aprendizado. A cada momento, boas lembranças!

Flávia Andrade

outubro 21, 2014

Pensei em tudo o que você deveria ser e assim ser para mim. Em tudo o que deveria acontecer para a gente acontecer também. Em toda frase que deveria dizer para eu compreender e responder o que você espera. Pensei tanto que eu vi outras duas pessoas, um mundo distante, outra relação, não tinham nada de nós e por isso eram perfeitos.
Pensei no que eu diria quando chegasse, em quem eu mostraria ser quando você me visse, como gesticularia com as mãos para que você entendesse melhor. Calculei o tom da voz, o tanto de "me desculpe, mas...", a quantidade de fatos e toda a explicação. Pensei tanto que estava em outra galáxia quando você repetiu meu nome pela quarta vez: você está bem? Quer uma água? 

Percebi que você não sabia, nem ao menos, o que me oferecer. Percebi seu jeito que é só pra você, ninguém pode invadir. Fiquei muda pensando e regredi os passos. A história toda se passou na minha mente e eu não tinha sinopse para mostrar.
E eu ainda penso: a gente se contradiz mais que discurso político, argumentos sem fatos e amor eterno declarado em rede social. Penso que cansei de ficar mais um pouco quando já não quero mais, que não gostar de gostar tanto não faz mais sentido.
Pensei tanto que vou embora para longe de três pessoas: você que é você, você que eu pensei que fosse, eu que você pensou que eu fosse. Vou embora comigo mesma, eu que sou eu, assim: não olho por onde ando, vou pensando, sendo meio desajustada, sendo melhor sozinha.

Flávia Andrade

outubro 15, 2014

Eu percebi, no meio de toda aquela gente dançando animadamente, que você seria o único a ver que eu queria levantar da cadeira e dançar também, mas não sabia. Eu percebi, entre tanta gente resolvida e independente, que você seria o único a vir dizer: eu te ensino. Na confusão de pensar tanta coisa sobre aquela hora, meio que sem querer, caiu a ficha de que você me veria tão pensativa e me tiraria daquele lugar. Entre o tumulto dentro do salão e o vazio dentro de mim eu vi que só você se adequava a tudo, aos dois: ao salão e a mim. Eu deixei meus pensamentos irem até você sem me esforçar, a saudade veio sem pedir autorização. Vi que eu precisava correr dali para algum lugar e só conhecia o caminho da sua casa, vi que precisava conversar com alguém e seu número seria o único a atender naquela hora da madrugada, vi que eu não tinha escapatória de todos os seus efeitos, vi que eu tinha tanta coisa para contar e só você teria paciência para ouvir, vi que eu queria chegar em algum lugar seguro e dizer o quanto custou para que eu percebesse todas essas coisas. Então, entre a sanidade momentânea e a loucura acumulada de tantos dias sem você, eu segui o caminho de sempre, o único que sabia de cor. Eu cheguei e disse: pode me ajudar a dançar, por favor?

Flávia Andrade

outubro 12, 2014

Eu iria dar ao domingo uma trégua. Um tempo dos tédios infindos, das reclamações sobre a vida, de receber visitas inconvenientes como prêmio por ter passado o dia dentro de casa sem ter feito nada, um tempo de mais do mesmo, do de sempre, da rotina. Mas ninguém veio, nem ligou, nem você para dizer: vem aqui qualquer hora. E quem sou eu para ligar? Eu com toda essa lista que não se acaba na mente fazendo prós e contras para me arriscar, duvidando da certeza de que amor é incerto e que não adianta teimar em fazer de um jeito só, pois no fim é tudo errado e a vida só é válida para as pessoas errantes. Quem sou eu para sair dessa comodidade para dividir meus hábitos com alguém? Eu que estou em toda essa vida teórica dando regras ao que ainda não aconteceu, procurando sequência de atos como se eu vivesse numa novela trágica. Quem sou eu para fingir ser normal perto de quem deixa as coisas no lugar? Eu que não gosto de arrumar minhas bagunças, eu que tumultuo a própria mente, eu que nunca sei onde estão as chaves, o celular e a coragem. Eu iria dar a mim uma trégua. Um tempo desse pessimismo, dessa loucura de pensar oito mil vezes antes de dar meio passo ao contrário, dessa mente fervilhante que diz: mas e se?. Um tempo de talvez, de será, de não sei. Mas quem é que condiz com o que planeja? Então começa tudo de novo e eu espero você dizer: você é sempre tão assim e até que eu gosto.

Flávia Andrade

outubro 10, 2014

Repare nos olhos. Nesses olhos que olham para outra direção. Nesses olhos que ficam sem cor quando você chega. Nos olhos que procuram escapatória em outros lados. Olhos que não querem te encarar. Olhos perdidos, mas curiosos. Olhos indecisos, mas ainda ressentidos. Repare nas pernas trêmulas, nas mãos inquietas, repare em todos esses gestos enquanto você proclama mais um discurso e esquece de ir embora. Repare no olhar que procura alguém que me salve. Nesse olhar sem endereço para ir. No olhar que não quer dizer nada, mas se entrega aberto. Repare nos cílios, sobrancelhas, bochechas, repare em toda extensão. Veja que não sou mais a mesma, veja que você me desestabilizou, veja que nesse novo alguém nada (além dos olhos) te reconhece, repare que sua voz pode persistir, seu perfume pode impregnar, mas ainda não sei te ver. Repare nos olhos culpados que já viram tantos risos nossos, repare que eles sentem saudade dos seus. Repare que meus olhos, vez ou outra, fecham uns instantes e lembram dos seus que se fecham quando você ri. Repare que o tempo para se você chega com audácia e encara esses meus olhos cansados, exaustos por todas as lágrimas que você causou. Repare que você é um peso grotesco para olhos tão sensíveis. Repare que se você chegar não pode estar tão próximo, não pode olhar tanto. Repare disfarçadamente, de canto de olho, repare com um olhar roubado esse meu olhar despertencido.

Flávia Andrade

outubro 06, 2014

Desencontrados

Eu gostava de esclarecimentos e você não gostava de se explicar, as coisas tinham lugares específicos em nossas vidas e não poderíamos interferir no caminho um do outro. Eu era apaixonada por frases diretas, você era apenas um viciado em entrelinhas. Eu buscava amor em gestos, você buscava em outro mundo porque nossa realidade não era o suficiente, tínhamos rumos traçados, mas ainda estávamos parados no mesmo lugar. Éramos iguais na falta de coragem, nas atitudes acorrentadas. E quando eu disse para você ir, era somente o que faltava, saiu andando pra vida que achava merecer. Eu adorava esses desencontros, não sabia que um dia eles te cansariam tanto, talvez eu insistisse menos em discordar, mas você foi embora e nós fomos um dia um pronome só. 

Flávia Andrade

outubro 01, 2014

Bem-vindo, outubro

Tenho dito: um mês só é bom quando as expectativas no primeiro dia são ruins. É como quando você diz: nunca mais, e no outro dia acontece de novo. Quando você desiste de procurar algo e isso aparece na sua frente repentinamente. Quando cansa de buscar alguém para amar e mesmo assim se apaixona. Quando tenta mudar e faz tudo igual. 
Silêncio sobre esse mês, ninguém comenta, ninguém espera, só acontece e daqui uns dias acaba.

Flávia Andrade
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