novembro 28, 2014

Olhos vermelhos

   "É uma nova embriaguez. Meus olhos coloridos de um pouco de sono e muito riso àtoa. Eu estive tão cansada, meu bem, foi tão difícil lidar sóbria com toda essa gente que não escuta, eu estive levando caixas de desaforos para a casa, arrastando-as por correntes amarradas nos tornozelos, deixando marcas nas ruas onde passei, os pés encravados no caminho ruim. Mas voltei para aquela rua nossa, a rua sempre minha, para a direção do bar.
   Eu estive pensando em você, meu bem, querendo a cada segundo correr para te abraçar. Dessa vez eu não pude correr, as pernas entrelaçavam enquanto eu ria de tanta coisa, mas cambaleando torta eu fui até você e senti seu corpo com a mesma intensidade que senti saudade nos últimos meses. Eu olhei para você, meu amor, para que visse a cor nos meus olhos de novo, eu estou de volta, com mais garrafas, mais álcool, mais de mim. E eu sei que você não vai ligar se eu cair aqui no sofá, sei que entende a despreocupação sobre o resto do mundo, sobre o que somos nós. Então eu deito aqui e penso nas nossas músicas, não lembro como canta.
   Amanhã, meu bem, a gente levanta, prepara um café, canta a música que não lembro agora, e a gente vai ser feliz. É uma promessa de bêbado, promessa pensada e repensada sóbria, promessa que escapou porque estava transbordando lá no fundo. Aliás, pode encher mais esse copo."

— Flávia Andrade

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