janeiro 15, 2015

Ah, a vida!

    Eu tenho dezessete anos e estou ansiosa para ter dezoito, esperançosa para que com isso algo mude, e olha que sou mais pessimista que otimista. Eu tenho uma família que não me irrita, nem fica no pé, apoiam quando eu preciso, mas mesmo assim me sinto como se não encaixasse. Sou só uma ovelha, nem negra, nem branca, talvez sem cor nesse meio. Até hoje tudo o que fiz foi terminar o ensino fundamental e médio sem nunca ter reprovado ou ficado de exame, publiquei um livro, um romance, e não é tão grandioso quanto soa, pelo menos não para min. Eu tirei oitocentos na redação do vestibular, isso significa que ser escritora não muda tanta coisa, pelo menos não para mim. Não sou mil em tudo o que envolve texto, é bem ao contrário, na verdade. Eu só sei transbordar em palavras, o que é uma coisa boa, pois ninguém atura quem transborda em lágrimas o dia todo e não estou querendo inaugurar nenhum rio. Sou um pouco anti social, eu tento ter amigos, mas só consigo amizades passageiras, gente que vai sumindo da minha vista e depois não me atendem mais quando ligo, e eu sinto que o problema é todo meu, somente não sei onde eu erro tanto. Nunca tive um grande grupo de amigos, sempre foi um aqui, outro lá, e esses se divertiam muito mais com seus grupos do que comigo, então eu comecei me auto isolar para a dor ser menor do que quando excluída por outro alguém. Além das leituras, me perco nas músicas, mas ao contrário da literatura, eu só sei apreciar e não criar. Não tenho ritmo para tocar algum instrumento e nem para dançar, não tenho afinação e nada mais. Eu ouço de tudo e isso inclui boas e más músicas, eu fico tentando me fazer feliz sozinha e é por essa razão que estou sempre cantando horrivelmente ou dançando como um robô pela casa. Eu gosto de letras de músicas bonitas, eu gosto de coisas como "quando ela cai no sofá, so far away" e "ela apareceu, parecia tão sozinha, parecia que era minha aquela solidão", gosto daquelas com as quais me identifico, assim como me encontrar em um personagem de livro.
     Sobre o amor, eu defino como gostar tanto de uma pessoa a ponto de escrever um texto sobre ela, eternizá-la em uma história, personagem, parágrafo ou somente uma frase. Isso, para mim, é amor. Mas teve uma pessoa para a qual eu escrevi mais de cem textos, e eles começaram bonitos, apaixonantes e terminaram melancólicos. É fácil identificar um texto sobre ele depois de todo esse tempo e é difícil mudar o rumo das minhas palavras. Vem surgindo um novo alguém e ja escrevi três textos para ele, não entregues. Como sempre, começaram bonitos, se eu releio até me contenho para não chorar, vem sendo um sentimento bom, parece tão certo. Acontece que na minha vida, tudo o que parece certo no fim descubro ser errado. Na vida toda, desde pequena. E eu tenho tanto medo de errar, pois já estou com um acúmulo de burradas e não sei onde jogar fora essa entulheira.
     Eu sei muito do que quero, mas tenho mais medo do que querer. Tenho mais facilidade em desistir do que arriscar, mais chances de deixar para atrás do que correr para alcançar, eu sou esse tipo de gente que se acomoda no que é ruim. Eu estou deitada nessa entulheira e só tenho dezessete anos. Mal sei como terminar meus textos, não sou boa com despedidas e conclusões, muito menos com finais. Mas eu sei, lá no fundo, que posso conseguir alguma coisa para mim, algo que me faça feliz. Eu tenho esse pouquinho de otimismo e espero.
— Flávia Andrade.

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