abril 21, 2015

Caminho da Fossa

     Miseravelmente só no banheiro do bar. Miseravelmente bêbada. Miserável e só. Sem grana e com caráter canalha. O mundo, eles dizem, é muito maior do que pensa e ele não precisa de você. Pois então, saibam, vocês estão lidando com uma egocêntrica.
     Engano deles ver em mim razão alguma. Não tenho razão que os satisfaça. Meu hálito tem teor alcoólico, não confiem no que digo. Somente eu posso confiar. Minhas pernas são bêbadas equilibristas, não confiem no que trilho e faço, nem para onde eu corro. Se confiassem, afinal, também estariam neste banheiro completamente vomitado agora.
       Eu limpo a boca e lavo as mãos. Vomito outra vez. Limpo a boca e lavo as mãos. Meto as mãos molhadas nos quatro bolsos da calça, acumulo papéis em cima da pia. Meto a mão nas botas e tiro mais besteiras. Recolho desastradamente tudo e jogo no vaso. Descarga. Isso vem deles e não quero mais.
     Olho ao redor e faço um jogo mental: o que está mais lixo? O banheiro, minha vida ou minha consciência? Não sei responder. Outra questão: quem/o que durará mais alguns anos? O banheiro, minha vida ou minha consciência? Não faço ideia.
       De qualquer maneira, ainda que miserável, valho mais que esse banheiro podre. E é com esse sentimento que saio dele. Pacífico.

A Viciada (personagem fictício de Flávia Andrade)
postado em O Beco Bêbado

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