abril 17, 2015

Toda Devaneio

 

   Ela parece personagem fugitiva de um filme de tragédia cômica. Quando está com medo desembesta a falar (com um palavreado não cabível no texto) sobre inúmeras possibilidades azaradas e usa porcentagens de pesquisas não feitas para apontar o quanto seu medo, no-fundo-no-fundo, é válido  dadas as circunstâncias. Quando argumenta com sua voz desenfreada, escondendo descaradamente o receio de estar dizendo algo errado, gesticula sem perceber e vez ou outra diz boas frases ou coisa que o valha. Quando dança desarticulada em relação ao resto do mundo que está sempre parado enquanto ela se move, até deixa em deslizes um pouco de esforço para acertar o ritmo, embora grite aos quatro ventos que pouco se importa. Aliás, quando ela finge que não se importa, mesmo que esteja se tornando um acumulo ambulante de importâncias, desenterra forças dentro de si para não demonstrar em momento algum que seu coração é bem maior. Mas ela deixa, por descuido ou cansaço, que em detalhes possa ser percebido todo o amor que sente. E quando ama, e aqui entramos em uma narração distante das características mais profundas, mistura todas as suas loucuras disfarçadas, torna-se, de longe, um ser incoeso e peculiar que precisa de teorias aprofundadas para ser compreendido. Não desiste, nem por somente alguns segundos, de amar mais do que sente, de transbordar mais do que pode e de se esforçar mais do que seja merecido ao outro. E quando vive, de verdade, sem pensar duas vezes ou se mascarar, com todos esses devaneios, venetas e explosões, é a criatura mais humana que posso ter conhecido.

Flávia Andrade

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