maio 16, 2015

Aposto uma vida nova e um cigarro


    Posso ou não ser viciada em jogos. O fato é que eu odeio perder enquanto finjo que jogo por jogar. Uma partida só deve começar quando ninguém mais está sóbrio, afinal, a sobriedade deve te por na cama antes da meia-noite, enquanto os porres te deixam na rua, no beco ou no bar para continuar aproveitando até a próxima manhã.
    Eu conheço cada artimanha de cada jogo e conheço o suficiente para usá-las sem ser notada. É por essa sutileza em minhas rodadas que sempre me aproximo da derrota. E é na derrota que abro os olhos e a competição realmente se inicia. Sempre jogo para perder, acontece que nos jogos me recupero e na vida não.
     Na vida meus vícios não estão sob controle, meu corpo não lida bem com a embriaguez emocional e sofro perda total depois de todo grande acontecimento. Não sei seguir uma tática e há sempre alguém que me controla melhor que eu mesma. Ando, ando, ando e não saio do lugar. Bebo, bebo, bebo e vômito nenhum me limpa por dentro. Sofro, sofro, sofro e choro nenhum lava porra de alma alguma. Me dê um taco, por favor, eu vou jogar sinuca. Me dê este baralho, por favor, eu vou quebrar minha mão quando bater na mesa e gritar truco. Eu vou jogar um poker, buraco, 21 ou qualquer outra coisa e apostar minha dignidade, vou jogar porque viver ainda não tem regras que eu possa seguir e essa normatização tem me feito um mal dos infernos.

Flávia Andrade (A Viciada, em O Beco Bêbado)

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