junho 20, 2015

A gente invertido


     Olha você, do outro lado da rua, prestes a atropelar meu auto controle. Quase indo para a outra direção para me forçar a correr atrás às cegas entre pessoas que não nos conhecem. Desviando de um por um como se fossem trezentos e tentando te alcançar como se há alguns meses não tivéssemos posto fim  a nós. Aquilo que chamávamos de nós. Olha pra mim, nessa calçada, a mesma. Digo, a calçada, eu, a situação, tudo a mesma. Você mudou tanto e, olha pra mim. O auto controle termina em cinco, quatro, três, e você dobra a esquina. O auto controle retorna, está tudo bem. Não vou fugir de mim para te alcançar outra vez. Só comigo me acertei, enquanto você só me fez chorar em frente a televisão com novelas das nove. Olha pra você, com toda essa velocidade se afastando, ignorando semáforos, não tendo lembranças das ruas que deixou para trás. E eu perdida em cada pedra no caminho, olha pra mim. Peço sem motivo, para ver se sente alguma coisa mínima minúscula intangível imperceptível inexistente ainda. Olha pra gente, quase outro mundo ou quase o mesmo mundo invertido. Você se afasta, e eu ando em círculos. 

Flávia Andrade

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