julho 30, 2015

Contínuo


     Por mais que eu escreva como quem respira fundo de olhos fechados, por mais que eu pense como quem corre na contramão de uma rua cheia de carros, por mais que eu ame como quem nunca soube sentir coisa alguma além de fome e sede, isso de gostar tanto de uma pessoa só justifica meus erros. Eu tenho relações que são como a última lâmpada do último poste aceso da vizinhança: visíveis somente para os que perambulam pela madrugada. No semi-escuro, as pessoas tropeçam em mim enquanto ando de mãos dadas a outro, pois não me adequo a espaços para um sendo dois. E no meio dos causos que conto sobre os inevitáveis encontros acontecidos descubro coincidências com encontros que nunca esqueço. Porque aquele que não esqueço já se tornou um filme mudo do qual eu sei de cor os diálogos. Porque cada mínimo diálogo se passa em preto em branco na minha mente e, ainda que pareça não causar nada, continua corroendo por dentro de mim por inteiro.

Flavia Andrade

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