julho 29, 2015

Fugas vãs



    Algumas vezes viajei para fugir de uns pensamentos meus que eram seus, mas a cabeça ficou no mesmo lugar; só o corpo andou e deitou na primeira cama do destino sem graça nenhuma. Algumas vezes fui tão longe que não soube voltar com meus próprios pés e precisei pedir partes suas para me acompanhar até em casa. Por outras vezes fiquei parada e, sem querer, me desliguei tão depressa que sua imagem sumiu como se todos os retratos tivessem sido queimados. Mas seu rosto sempre se recompõe na minha frente, com os olhos cada vez mais intensos. Deixar para trás não é questão de força, portanto os olhos marejados a cada lembrança não são sinais de fraqueza. Porque eu ando, corro, dirijo, durmo, vivo, penso, escrevo, canto, grito, e você ainda é um acúmulo infinito em sete letras de um nome que não esqueço. Porque eu conheço mais outras pessoas, frequento novos lugares, releio todos os livros da estante e recrio momentos, mas seu cheiro aparece repentinamente em todas essas tentativas de não lembrar dos abraços. Seguir em frente por linhas certas, tortas, cordas bambas, estradas esburacadas ou chão de areia, tanto faz, causa sempre um cansaço que me faz bater na sua porta e aceitar um café. Não ter você me descentraliza do meu próprio mundo, fico pelos cantos arranhando os braços nas paredes. Te peço para trazer remendos e depois digo que não foi nada. Estou sempre andando em círculos até descobrir (qualquer dia numa poesia qualquer) em qual lugar devo me aninhar.

Flávia Andrade

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