agosto 05, 2015

Da janela do ônibus


    Fico perdida, por acaso, no caminho para lugares sem importância dentro de um ônibus lotado, enquanto começo a pensar em todas as coisas que eu deveria ter dito quando você esperou respostas, em todas as coisas que eu deveria ter feito quando você não esperou nada, e tudo o que eu deveria ter deixado para trás antes que ficassem cravadas em mim. No meu rosto algum sorriso às vezes escapa alheio às coisas boas que lembro, aos meus desesperos a toas e aos mal entendidos que depois foram resolvidos. Adentro outros universos enquanto não chego ao destino do outro lado da cidade, de toda forma, ando percorrendo extremos. Fujo de mim porque de jeito nenhum me comporto nesse corpo sem calor seu. Quando me desligo, assim, tão fácil quanto pagar com moedas pelo meio de transporte coletivo, dou jeito de me desligar tanto até não estar mais presente. Vou para onde meus braços te alcançam e refaço aqueles dias que não deram certo.
    Mas o ônibus chega e para. Eu tenho que acordar e descer. Tenho que levar essa vida como quem leva todas as compras numa sacola pendurada no ombro esquerdo. Tenho que me encontrar nos lugares onde não te vejo e andar até os lugares que preciso ir para não ser só mais uma perdida na multidão.


Flavia Andrade

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