novembro 12, 2015

Saco sem fundo

    Ainda não é tarde da noite, mas me esgotei. Do topo do quase-fim do dia, eu desabo. Por tão pouco amor, por tanta falta que se faz. Eu me sinto tão nada que ecoo repetições: as saudades do que eu era e do que eu tinha, de novo e de novo na memória. Tão vazia que não paro em pé, sou saco sem fundo e sem sustento. Um tanto triste, um tanto só, um grito rouco e sem forças que avisa que talvez seja necessário mais de um sono. Talvez um coma, talvez outra vida, talvez eu nem queira acordar. É que a dor - que tanto dizem sentir - é puro desconforto, como se pudesse ser puro. É uma inquietude na mente, uns nós nos dedos que não estralam, uma vontade que não passa, parecendo ser fome de um universo inteiro e sede de toda sua água. Eu sei que os dias não são circo ao ar livre, tampouco amanhecem para nos fazer felizes. Mas é que uns tempos pra cá, a vida vai muito como uma ópera trágica, e eu nem gosto dos assentos dos teatros. Sendo tão sem-nada-a-dizer assim, nem me restam palavras e as mãos se apressam para o ponto final, o ponto no qual eu pego um ônibus, escoro a cabeça na janela e tento ir o mais longe possível até atravessar esse fuso-horário, só para sair desse "ainda não é tarde da noite, mas me esgotei". Só para ficar um pouco melhor em qualquer outra hora.
Flavia Andrade

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