março 30, 2016

Das constelações às multidões

sky, night, stars

    Que não construam mais prédios, os olhos pedem. Os olhos que saem à noite apenas para encontrarem aglomerados de estrelas no céu. Eu interrompo falas noturnas de quem quer que esteja andando ao meu lado para adicionar um comentário verborrágico sobre o que vejo, e não há nada que me impeça de valorizar o plano-sequência real das caminhadas nessa cidade de casas baixas. É assim também com um corpo intensificado pela alma que quer encontrar outro corpo transbordando apelos de um coração devorador de espíritos e auras. Que as pessoas não construam mais barreiras, que não arquitetem mais medos, porque o amor precisa de espaço; precisa ser enxergado a olho nu, com telescópio ou olhos de caleidoscópio no meio de um tumulto ensurdecedor. É preciso que se sinta tão quanto se vê, porque sentimentos cegos são confusos e perdem a melhor parte: o reconhecer. É preciso que haja uma paisagem livre, digna da infinitude de uma fotografia horizontal, para que os olhos perscrutem até encontrarem quem desejam, como perscrutam o céu até encontrarem o Cruzeiro do Sul. Te reconhecer de longe, afinal, é o impulso que me faz correr sem me preocupar com qualquer obstáculo, querendo alcançar somente a parte sua que me falta, ainda que essa parte seja seu eu completo prestes a me inundar. Que as pupilas dilatem com cada estrela e pessoa encontrada.
Flavia Andrade

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