dezembro 20, 2013

Você, meu pequeno verso

   Já escreveram sobre tanto... Tudo já é poesia. O sol, mar, vida, amor, flor, vento. Tudo já nos fez chorar de alegria e tristeza, nos transmitiram emoções, o mundo os conhece na arte e na própria vida e, gradativamente, vão perdendo o sentido, pois algo tão íntimo como o azul do céu não poderia ser espalhado entre folhas por aí.
   Mas você, tão só e meu, não ficará em qualquer canto, mesmo sendo assim tão lindo, te guardarei nessa pequena página enquanto ouço nossa música tocar e minhas lágrimas prometem não contar que você para sempre estará aqui.

Flávia Andrade

dezembro 12, 2013

Eu deveria ter me entregado. E me integrado. Mas meus movimentos retrógrados não obedecem minhas necessidades. Há essa parede que impede tudo o que pode acontecer e eu não consigo derrubá-la. Sou tão fraca.

Flávia Andrade

Notas de um devaneado. Parte II

Eu poderia resistir a qualquer coisa negavelmente aceita. Poderia deixá-la arrancar uma parte de mim e levar embora, seria capaz de permitir que ela arremessasse um caminhão contra meu corpo.  Eu era forte, de pedra. Por ela. Mas quando seu sorriso se dirigia a mim, meu coração pulsava tão forte.  Eu me tornava um inútil sem ação.  Um fugitivo sem pernas. Eu ficava indefeso quando ela sorria.

Flávia Andrade

Notas de um devaneado. Parte I

Ela diz que não dá a mínima para a diminuição de tempo de vida que o cigarro causa e que, de qualquer maneira, pode morrer de repente.  Eu gostaria de ter esse mesmo ponto de vista ou ao menos aceita-lo. O problema é que por ela eu parei de tentar me matar, por causa daquele sorriso devastador eu parei de chorar, me tornei tão firme e corajoso, passei a parar de me esconder dos monstros a noite, pois quando ela esteve com medo, eu levantei e lutei contra eles.  O problema é que eu busquei pela vida, alcancei-a, abri os olhos para a realidade, me dediquei a cada dia. Toda segunda feira após acordar, sentava-me na cama e dizia a mim mesmo: Vou aguentar, só mais hoje. Eu juro, eu não vou desistir hoje. E eu repeti isso nas terças, quartas, quintas... Durante a semana, os meses e os anos. Eu não vivi intensamente, mas eu vivi.  Meus pensamentos suicidas continuavam me rodeando a cada desastre em minha vida (e foram tantos!), mas eu me mantive firme. Esse era o problema. Porque eu estava ali vivendo por ela enquanto ela estava se matando por um descaso filho da puta. A cada cigarro finalizado eu vejo um desperdício de dedicação meu aumentar na lista. Parei de viver forçadamente, agora vivo por mera acomodação. Mas foi um caminho árduo até aqui.
- Apague essa porra desse cigarro! - Esbravejei de repente.
  Ela riu melancólica.
 - Apague você.
  Eu não sei que força me levou até ela e levantou  minha mão, mas rapidamente aquela merda esfumaçante foi para o chão.

Flávia Andrade

outubro 30, 2013

Retrógrado

   Caminho retrógrado, para onde está me levando? Há somente espinhos nas rosas que plantei, há somente galhos sem folhas e essa cor ofuscada de fim de outono. Eu poderia tentar encontrar mil motivos alternativos, mas novecentos e noventa e nove seriam por causa desse seu furacão de ideias que me corrói. Inerte em pensamentos que me sobrepõem à realidade e concluindo que estou e sempre estarei iminente ao pressuposto infundido de proeminências, arremessada nas expectativas alheias que fundamentam um espelho de realidade que me encara todas as manhãs, enquanto eu caminho somente para trás. O alvo das especulações e a consequência discrepante rondando cada gatilho de memória, alertando como sirenes o pior futuro. A música toca seu refrão e minha alma acompanha: Is anybody gonna save me?

Flávia Andrade

outubro 29, 2013

O fim do dia

   Esperei você por exatamente vinte e quatro horas. Desde o primeiro segundo da primeira meia noite até o último dos últimos 00:00. Me ausentei para o mundo permanecendo atenta somente ao que você fazia, em nenhum momento preocupou-se em recordar que ontem a saudade esteve mais vasta. Que ontem me recordava tudo o que fizemos exatamente um ano atrás, que ontem chorei ao relembrar o quanto você se esforçou naquele 28 de outubro de 2012 para me fazer sorrir. Esperei você por um dia inteiro, o dia mais doloroso que você uma vez já fez dele o mais mágico. As coisas na minha vida costumam ser bastante irônicas, e poderia considerar a ideia de isso ser também, mas o que me resta sobre ontem é a falta de suas palavras e abraços e as lágrimas que transbordaram quando o relógio anunciou 01:00. Você poderia atrasar alguns minutos, mas nunca atrasou uma hora, as esperanças se findaram naquele instante.

Flávia Andrade

outubro 27, 2013

   Tenho horror aos dias que não vão de acordo com o meu humor. Sóis que não brilham como deveriam em uma manhã alegre e céus que não escurecem diante de uma tragédia emocional. Gosto daqueles dias que de repente anoitecem sombrios quando me decepciono e na madrugada vão apenas aprofundando em melancolia e choram toda a chuva já esgotada de meus olhos.
   Mas a vida é assim, não preciso de pé esquerdo para saber que tudo girará contra mim. Que o sol estará bem diante dos meus olhos queimando-os enquanto eu implorarei pela escuridão e ele se arrastará até o seu último brilho ao se pôr e quando vier a noite, a lua estará tão iluminada... As pessoas com a casa cheia e consequentemente cada cômodo com a luz acesa, os postes terão brilho o suficiente para tornar desnecessário o farol, mesmo assim os carros insistirão em uma claridade alta só para constar. Sinto-me um vampiro.

Flávia Andrade
   Eu gosto do cheiro de cigarro misturado ao seu perfume naquela camiseta branca. Do seu sorriso disfarçado tentando conter a timidez. A gargalhada que guarda para não parecer tão indiscreto, todo esse cuidado de estar sempre certo, mesmo sendo tão errado. Sua gentileza sempre tão presente, esperando qualquer medo para cuidar e dizer "estou aqui". Gosto de você vagando por essas ruas, sempre tão perdido em qualquer pensamento ou mpb, tão desligado, mas me vendo admirar seu jeito e seus defeitos, esse você. Me encanta esse teu encanto junto do teu canto que quer desafinar, mas que se afina por atenção. Gosto desse olhar perdido buscando qualquer resquício de compreensão, essa maneira leve de caminhar a passos firmes fingindo ignorar qualquer rejeição. Gosto desse seu vocabulário, desajeitado tentando se expandir e dizendo coisas tão bobas em meio ao seus ataques de vergonha. Gosto dessa risada ao fim de cada frase como se pedisse para eu rir também. Gosto de você.

Flávia Andrade

outubro 26, 2013

   A vasta escuridão se delicia com o medo
   intimida a luz, faz dela sombra o que temo
   cria lendas, terrores, ficções, inspira o simbolista
   a canção do silêncio, a prece e oração que ecoam da alma aflita
   E devagar da llareira nasce o poeta
   surdamente o suspense lhe penetra
   O fogo ardente relutante cessa ao encerrar da madrugada,
   há somente nódoa no ama-dor e mais nada
 
Flávia Andrade

Outra metalinguagem

   Sinto falta de quem eu era anos atrás. Talvez porque não houvessem tantos "talvez" em meu vocabulário quanto agora. Meus textos eram somente clichês e dengos romancistas, minha apaixonada inocência perpetuava por cada palavra e eu habitava um abismo de emoções intrínsecas ao que me tocava.  Agora sou somente o rancor da vida que paradoxalmente quer viver de verdade.
   Há pessoas que me inspiram no decorrer dessa literavida e assim componho minhas obras sem sabor. Os móveis também têm sua responsabilidade nos textos que se escrevem, eles têm lembranças. Outra parcela de culpa está nos olhares dos estranhos nas ruas, malditos que me instigam ao desejo de ter qualquer poema que se encaixe perfeitamente naquele brilho. Então eu tento compor recordando do que minhas retinas viram.
    Sou um museu literário, me estagno de lembranças que se transbordam nas noites de solidão. Mas ainda me amedronto com o que minhas mão manuseiam a escrever, eu tenho medo do desconhecido, ele faz meu coração acelerar, mas continuo indo ao seu encontro, preciso desvendar. Há uma loucura inerte nisso tudo, mas no fim há sentido. Somente eu posso enxergar?

Flávia Andrade

outubro 25, 2013

A louca

   Ela carregava consigo doses de loucura e percorria o trajeto mais longo para alcançar o vento com as mãos. Queria guardá-lo para um dia voar. Tinha uma teoria habitada por pensamentos que só faziam sentido para si mesma. Era uma dona de razões próprias procurando a liberdade do que ainda lhe afligia. Talvez nunca conseguisse ser extremamente livre, mas tinha a esperança de ser. Somente ser e viver.

Flávia Andrade

Tudo seu é tão céu

   Esperando por sua ligação enquanto o coração suspira devaneado. É como se minha calma mendigasse atenção somente sua e minha raiva se dissipasse no olhar somente seu. Enquanto esse sorriso fugaz no meu rosto se torna infindo quando ouve esse tom de voz que pertence só a você. Há tantas coisas suas guardadas aqui, segredos que deixa escapar em silêncios, confissões que se deleitam nos risos. O pôr do sol de repente pareceu pousar ao nosso lado quando nos falamos da última vez e eu quero outros amanha e anoiteceres ao lado seu, lado que é só meu, lado que é só céu.

Flávia Andrade

outubro 23, 2013

Livro infindo

   Há um vazio nessa folha que deseja se preencher, mas minhas mãos e vocabulário fogem. A metalinguagem é somente o que me resta. Quero escrever sobre o amor, mas ele me angustia. Esqueça, há algo mais profundo no fim de uma reticência...
   Às vezes dói como o diabo pensar em tudo o que poderia ter acontecido, mas por outras vezes ter em mente os “e se...” é confortador. A verdade é que cada pormenor da vida tem dois lados, alguns são paradoxo, outros são somente paralelos. Contudo sempre estaremos entre o céu e o precipício, entre a escolha errante e a certeira decisiva. Nunca saberemos se foi acaso ou destino, se ambos existem ou é somente invenção humana. E nesse exato segundo eu me pergunto se estou do lado certo, amando o correto e me dedicando ao merecedor. Ao mesmo tempo eu não tenho ideia de onde estou psicologicamente, o chão que piso nesse momento não passa da única matéria plana na minha vida.
   Duzentas palavras pareciam o suficiente para deixa-lo. Mas eu voltei, regredi como em todas as coisas que faço. Presa no passado por vontade própria, medo e orgulho. Quantos personagens de best sellers passaram por isso¿ Milhares. Seus autores devem ter sofrido o mesmo. Todos superaram com um ótimo desfecho. Mas eu sou um livro que nunca se finda. E eu não sei superar.


Flávia Andrade

Aquela tarde

   Vi-te naquele veículo mortal que encaminha minha vida ao precipício. Vi-te naqueles olhos nos olhos de quem vem remoçando, enquanto minhas lágrimas derramando entregavam-me a ti mais imatura desde os anos que se passaram e não nos falamos. Eu não conseguia conter meu olhar correndo ávido ao teu encontro e me decepcionava profundamente a cada segundo que via em seu sorriso a pouca diferença que agora faço. Sinto-me um trapo rejeitado pela máquina de costurar, um saco de lixo caído do caminhão. Eu acreditava há alguns anos que éramos uma pessoa só como em poesias romancistas, eu tinha uma percepção literária sobre o que éramos. Nós não éramos nós, éramos laços, fitas envolvidas e coloridas, linhas para se escrever e pregar retalhos. Agora somos... O que somos? Eu pensava que ainda me conhecia, mas você roubou todas as minhas certezas. Não sei quem sou e meu coração despedaçado só permite que meus olhos enxerguem a criatura má que há em ti. Vi-te naquela tarde e suas últimas palavras repassavam em minha mente e doíam como o fogo do inferno. O destino final nunca chegava e meu coração ardia e chorava. Eu me sufocava enquanto você me matava, havia tanta dor e você simplesmente não percebeu.

Flávia Andrade

setembro 15, 2013

Isso apenas não significada nada. Nada. São músicas de merda que eu imaginei terem algum sentindo em minha vida. Tudo é inútil. Sou uma pessoa de merda que teve a ilusão de significar algo algum dia para alguém. São pronomes indefinidos fodendo com tudo o que há de esperança em mim.

Flávia Andrade

setembro 13, 2013

Literavida

   Sou paradoxo educado por Camões, procrastinação consequente de Hamlet, sou da natureza, a criação, o inventar das palavras que Manoel de Barros ensinou. Sou personagens devaneados e embriagados de Clarice Lispector. Me rendo à abolição de caprichos e delicadezas, me rendo ao vinho, à malícia e às infimidades do velho safado Bukowski. Sou ex-estranha, sou toda Leminskiana. Sou a rima intrínseca que não se vê em Drummond. Aspiro à Hemingway. Sou pseudo poeta. A romancista que quis ser realista como Machado de Assis. Sou a Semana da Arte Moderna, sou museu literário. Ainda não sou Letras. Serei. Serei, na verdade, realmente tudo o que até aqui escrevi.
    Sinceramente sou clichê, sou toda forma de amor, sou piegas, sou toda a paixão que mata, mas não morre.

Flávia Andrade

agosto 29, 2013

Delírio

   Intimamente tenho um sonho. A ilusão de que todo esse turbilhão que chamo de vida tenha sido apenas um pesadelo e que a qualquer instante eu acorde e todo o azar, marés traiçoeiras, temporais de decepções e vendavais de rancores que passei desapareçam. E então minha vida lapidar-se-ia no locus amoenus de um idílio.
   Sonho que de repente, por decreto, seja interditada a entrada de qualquer sentimento maligno para o meu viver saudável e por lei resolvidos todos os problemas e esclarecidas todas as dúvidas. E oras, por que isso não acontece? Por que deve ser tão utópico esse querer? Para quebrar a cara.
  Sim, fecho os olhos e penso em todas as maneiras e caminhos que minha vida tinha para dar certo e ela fez tudo ao contrário. Eu fiz tudo ao contrário. Fui para a esquerda quando o caminho certo estava na direita e quando deveria andar dois passos, regressei quatro. Eu disse sim quando a resposta era não. 
   Preciso de um ar. Tenho em mim a certeza incerta do mundo e a incerteza absoluta do mais ínfimo do universo. Tenho a utopia belíssima e a realidade melancólica. Preciso respirar. Sou um furacão de ideias não concretizadas e levo em meus ombros o peso de umas nove ou dez gerações. Onde se encontra ar nesse inócuo quarto escuro? Estou mesmo em um pesadelo? Deixe-me acreditar então, por um mínimo átimo que sim.

Flávia Andrade

agosto 14, 2013

   A iminência de minha alma afronta meu coração.

agosto 05, 2013

Regar

Amor,
rega a flor, rega a calma
a confusão renega, mas rega
o que crescerá, brotará
sucinto se encarrega
de fazer da semente oxalá
para ser carregada
no vaso, na cor, essa flor de sabor
de vida, de paz, outro caminho
que satisfaz
joga água para dar vida
nesse quiproquó, e avisa
que a flor já se revela
amor

Flávia Andrade

agosto 01, 2013

Outono

   "Eu via as folhas caindo das árvores, começavam lentas, mas já sem cor e de repente despencavam de uma vez no chão sem pena. Na verdade, até os pássaros pareciam sem pena. Não havia mais plumas coloridas e diversas nesse mundo. Restavam aquelas de cor ocre como se queimadas e machucavam meus olhos. Minha visão poeta observava as lágrimas nos galhos por perderem seus bens preciosos, cuidava o chão esperando pela sua felicidade, mas ele não se importava com a folhagem velha que apenas o sujava. De repente o mundo se tornou todo aquele amarelado de foto antiga que precisávamos revelar sem saber o que sairia no resultado. Eu não soube mais o que esperar do futuro.
  Ela agia como uma folha caindo e amargamente machucava meu coração. Pois eu havia cuidado-a como um galho cuida de sua flor e não estava preparado para vê-la se soltar de mim. Era isso, aquela menininha havia decidido se libertar de mim, desfazer o nó. Nesses dias ela me gritou:
- Preciso de ar. Meu ar! Não respire ao meu lado, me deixe sozinha. Ar! – E  saiu pra bem longe, voltou só à noite e ignorou que meu ar ainda pertencia na camisa minha que ela vestia.
   Eu era um galho sendo descoberto de todo o verde maravilhoso."

Flávia Andrade
No livro "NATASHA"

julho 14, 2013

meu shrek

comprarei um fusca azul
o nome dele será shrek
me chamarão de daltônica
e eu sorrirei chamando-os de cegos
pois meu banco será verde
e também minha inspiração

nesse banco escreverei poesias
que julgarão desrespeitosas à literatura brasileira
mas eu sorrirei chamando-os de cegos
pois no banco terá a explicação
(do escrito que não teve sentido)
e também a inspiração

escreverei a pior poesia
com o melhor sentimento
pois estarei sentada no melhor banco
sendo a pessoa do pior discernimento

Flávia Andrade

julho 13, 2013

Dores (quase) sedentárias

Têm livre arbítrio minhas dores
mas se fixam em meu coração
ás vezes acho que morreram de comoção
contudo são apenas rumores

Mas não dê asas! São como imaginação

Se acaso cutucadas com vara curta
se expandem rápidas feito furacão
clareiam como um relâmpago de permuta
entre o raio e o trovão

Flávia Andrade

Paradoxalmente: sozinha comigo

Amo essa solidão concomitamente a odeio
conquanto paradoxo a ela é tão cabível
assim sendo uma pacificidade sofrível
e ao me tornar fria a incendeio

Flávia Andrade

Contorno preenchido (A Sombra)

O acinzentado sol que fito agora
(outros por lua chamam sem demora)
é mais nada que alguma sobra
(antes denominada negra sombra)
- mas se é resto é penumbra -
de cada lágrima que você chora

Flávia Andrade

A poesia já passou

É tarde para tentar compreender
cedo e morno para amar estes versos
o fato de outra folha não haver
inclina cá meus reais pesadelos complexos
que atinam até algum olho arder
por ler palavras tão bruscas como manifesto
e premissas que não se deixam ceder

Flávia Andrade

julho 12, 2013

Tem dias que acordo tão sentimental
que temo meu amor ser banal
essa coisa de gente sofrer por amor
ser tão profundo e esquecer o carnal
de levar na bagagem o rancor
e ter resquícios de um amor de jornal

Amor de prosa e poesia
de gente que ama sem dizer
que não preenche vida vazia
amor sem dono e sem coleira
amor sem seus ossos e ração

Amor que não passa de ilusão
por parte de um platônico apaixonado
que se finda em imaginação
em memórias de um passado inventado

Flávia Andrade

Melancolicamente só

   Em minhas retinas as cenas de pessoas especiais indo embora são costumeiras, e quiçá, normais e abundantes. Minha voz grita pela solidão, mas meu coração se aquece somente quando alguém está por perto. Me agito e me irrito quando sou tocada, mas meus pés descalços e minhas mãos se enlaçam para um abraço, tarde demais. Todos já se foram, amigos e família, estou sozinha em um abismo de decepções. Só minhas. Antes eu tinha meus amigos, meus pais, meus primos, meus avós. Eram todos meus. Agora as únicas pessoas que possuo são minhas infelicidades e saudades que criaram vida de tão imensas que estavam.

Flávia Andrade

julho 10, 2013

atrizes belas

Na noite infinda
a lua mais que linda
infinita
me fita

e as estrelas
como velas acesas
atentas,
refletem-nas
em mim diversas,

os esdrúxulos
relaxados
poemas que escrevo
distraídos
dispersos
devaneios
se tornam belos,

somente nesse
infinito plano
iluminado por lua 
e estrelas

que no céu 
são luminárias
na minha janela 
são artistas
de cinema americano

Flávia Andrade

julho 08, 2013

des(espero)

Será? Ser-à. Ser-ar.
Terá? Ter-à. Ter-ar
Solidão taciturna
dúvida nebulosa
não sei quem eu sou
não sei nem o que tenho
para levar nessa bagagem
nesse leve desempenho
mas não levo desvantagem
quero ventagem, quero vendaval

Flávia Andrade

nata(ção)sou

Nado nesse mar de vida
vivo nesse nada nadando
esse nothing
esse rien
esse nichts
esse swim
esse nage
esse schwimme
não sou nada se nado
não nado se não sou nada
vou nadando sem nado
vou nadando e sou nada
ou não sei nadar
ou não sou nada
sou ou sei radar
com ou sem radar

Flávia Andrade


prefiro lavá-las

tem dias que até a cortina me faz chorar
e esses dias são tão novos que me fazem repensar
porque ainda tenho cortinas brancas em todo canto da casa
talvez eu as deva vender como vestido para a noiva que casa
talvez eu deva vender meu coração pro noivo que se desgraça
vender meus CDs de sad songs para a dama de honra devassa
ou doar para um mendigo de graça

porém ainda gosto do balanço das cortinas
quando mantenho os tecidos brancos abertos
mas abro as janelas
e o vento os levam dispersos
para frente em direção ao meu corpo submerso
em melancolias

talvez eu apenas precise dar um banho
nessas cortinas amareladas antes brancas
e comprar um vaso de flores brandas

Flávia Andrade

pouco e infinito

a mão pinga colírio nos meus olhos
o céu pinga estrelas no meu olhar
a lâmpada clareia minha visão
o sol acende minha emoção

Flávia Andrade

amanhecer

de repente o dia vem
antes que eu pudesse adormecer
de repente o dia mente
o sol que a nuvem queria esconder

Flávia Andrade

sol que voa

ver borboletas
belas amarelas
me dá esperança
de paz, de dia novo
de sol que vem me visitar
com asas e cores
que meus olhos
podem enxergar

Flávia Andrade

sobremesa solitária

tem leite derramado
na mesa
porque não sei servir

tem rosto fechado
na mesa
porque não sei sorrir

tem história incoesa
na mesa
porque não sei mentir

tem pouca gentileza
na mesa
porque não sei assentir

não tem nada além de silêncio
na mesa
só eu continuo aqui

Flávia Andrade

julho 03, 2013

Sorria

Desejo que as borboletas
para a palma de sua mão
voem de minhas palavras

Desejo que a brisa lhe invada
como uma antiga canção
como o doce toque de uma fada

Convido os anjos serafins, 
quero o locus amoenus
de literatura e jardins

todos dançando em sua alma
como dançam os lírios
que me preenchem de calma

Desejo somente
um pouco de mim
que faça bem a você

Flávia Andrade

julho 02, 2013

Escritorinha

   Tão jovem se perdeu nas entrelinhas de seus costumeiros poemas e não mais se encontrou. Tão nova e já presa em vírgulas e reticências e nunca mais pôs ponto final. Proseava em versos, vivia em estrofes, sorria em palavras. Outrora chorava em algum meio e calculava suas metrificações. Repugnava a ignorância, mas adorava a desconfiança. E assim seguia os dias, quatro ou cinco linhas e uma queda para outro abismo de inspiração. Às vezes devaneio, às vezes atenção.

Flávia Andrade

Destinados

   Qualquer hora dessas encontro você por aí, seja no bar da esquina ou na velha rua que andávamos. Quem sabe um dia a gente se tropeça e caio em você novamente, me derrubo no teu jogo e teu corpo. Te encontro por ali e a gente se resolve e se complica, como sempre seremos uma discrepância não questionada. Não fique esperando, não programe encontro, deixa acontecer. Não me cerque com esses olhos de quem sabe o que vê e o que quer enxergar, me olhe confuso e curioso. Deixa ser como será. Encontro você por aí, em uma sala de cinema ou no karaokê da Rua Brilhante. Pode ser na casa de show que você tocava. Quem sabe um dia a gente se empurra e se amarra e me prendo a você, às tuas palavras e cantadas baratas. Assim revivemos algum filme dos 80 e seremos só nós dois como o amor de Lisbela e o caminhoneiro. Vamos nos danar por estrada mundo afora, meio bêbados, meio loucos, como em uma música do Aerosmith ou John Mayer. Podemos pegar nosso caminho para o inferno ou ao céu, como bem decidir. Se eu te encontro, divide teu fone comigo, encaixa tua música na minha.
   Encontro você por aí, pois alma solta que tem destino traçado sempre se embola e se enrosca com quem foi feito para ser e pertencer a um só.

Flávia Andrade

Diga-me o que?

Há algo errado, exagerado
não o frio no peito
nem o coração congelado
Há algo errado, exasperado
não a brasa no seio.
Será meu amor?

Flávia Andrade

Aqui está

Guardei você
no retrato apagado
na chama acesa
no sofá rasgado
na mancha na mesa
no sonho desfocado
na história incoesa
no passado recordado
na velha surpresa
no futuro inesperado
na série inglesa
no presente formulado
colori você
em obra pseudo Monet

Flávia Andrade

Sem voltas

Quero lhe contar 
que o passado se deixou passar 
profundamente, 
não lhe retomo 
as palavras escritas 
e quem dirá 
as palavras ditas, 
quem dirá? 
Foi sucinto quando passou, 
apenas foi o fim. 

Flávia Andrade

março 27, 2013

Querer ser o que escreve


 Era noite quando ela despertava e era nas manhãs que cansada repousava. Nas madrugadas deixava resquícios de seu vocabulário entre folhas e pontas de lápis. O barulho do apontador caindo no chão era extremo e o da página folheando era sonífero. Conforme a ideia aflorava e as mãos apressadas escreviam, seu rosto aproximava-se mais como se pudesse entrar de vez no enredo que criava.

Flávia Andrade


Voo de ideias

  
   A inspiração aflora e vai embora, como um pássaro que passa a sua frente belíssimo para que o admire e em um piscar de olhos voa pra longe, foge com sua cor.

Flávia Andrade

março 14, 2013

Write

  Todas as noites ela deitava em sua cama e tentava dormir, descansar apenas um pouco, mas seus pensamentos e memórias não se desligavam, apenas despertavam cada vez mais imagens se passando como um filme. Então ela se levantava, pegava um caderno e uma caneta qualquer e começava a escrever o que guardava durante todos os seus dias... Era assim que ia compondo na solidão suas mais belas e confusas palavras. Das mais melancólicas às piegas. Abrir um caderno vazio era abrir uma vida para desvendá-la, ela sabia que encontraria em uma folha branca a inspiração para narrar uma vida tumultuada.

Flávia Andrade



março 07, 2013

Recordações daquele homem bom

   No fundo, agora percebo, eu gostava desse seu jeitão de ser. Não se preocupava com a roupa que vestia, não gostava de se aparecer pra fotos, não gostava nem mesmo de aparecer. Estava sempre ali, sentado por trás do balcão do bar, rindo das histórias contadas pelos bêbados, aprendendo com a vida sem ao certo buscar por ela... Pois com essa teimosia morria aos poucos, não tinha saúde, mas nunca se prontificou de ir a um médico, inventava desculpas e sempre saía vencendo, até porque com seu jeitão, convencia a todos de fazer tudo do seu gosto.
    Pai, por muitas vezes você me ensinou, por entrelinhas, como ser a garotinha firme entre os garotos, a garotinha inteligente na escola, a garotinha que sabia que tinha um herói. Não era bom em sentimentalismo e talvez por isso eu não o seja, mas sabia dizer as palavras certas, novamente, com seu jeitão. Você tinha um nome forte, mas eu adorava mesmo era quando mamãe te chamava de marido. Simples assim.
- Marido, o almoço está pronto. - Dizia calmamente, ela que era sempre tão firme. Não eram o casal apaixonado dos filmes, mas eram minha família real, rei e rainha sem coroas e sem frescura.
     Por outras vezes eu me deixei levar por dramas inocentes, dizia que você não me amava por não ser um pai igual os outros, por não me buscar na escola, por não me dar beijo na testa ou por nunca ter me dito (com todas as letras): eu te amo. Eu também nunca disse em voz alta, apenas escrevi cartinhas, mas o senhor abalado, apenas riu. Eu pequenininha, chorei, não entendi o quanto era difícil pra você lidar com uma pirralhinha te declarando amor. O "Waltão" - apelidado pelos amigos da época de garanhão - nunca foi homem de muitas palavras, mas até meus onze anos quando você se foi, eu não tinha aprendido a entender os fatos.
   Com quase quatro anos de recordações, a cada dia vejo que aprendi mais. Papai era um homem bom. Você era um homem bom. Ainda ouço os teus velhos amigos me dizerem "Ele não regulava comida pra quem precisava não, naquele barzinho entregava arroz e feijão pra quem aparecesse pedindo, cobrando apenas alguns minutos pra ouvir seus conselhos". Papai era um homem bom. Essa frase martelou em minha mente incontáveis vezes desde que você se foi, e eu, antes que você fosse não pude perceber.
   Todas as noites, penso em como seria se nós não fossemos tão cabeça dura e dissesse logo de cara um eu te amo no meio de algum bom dia. Mas onde ficariam as lembranças do teu jeitão? Eu sempre dou um pequeno sorriso quando penso em você como paizão, e era mesmo. Sinto tua falta. E de todos os bom dia substituídos por alguma musica improvisada que me fazia levantar pra escola. "Flavinha, hora de levantar, tomar banho, procurar o estojo e ir pra escola" - Cantava em um ritmo que só eu conhecia e a história do estojo, ah, eu sempre perdia alguma coisa de propósito pra chegar atrasada e não ter aula de geografia. Eu ficava irritada com a musiquinha, mas era porque odiava acordar cedo. A propósito, continuo odiando. Mas se você soubesse como sinto falta e pudesse voltar, juro que eu até cantaria junto.
    Sem abraços, sem declarações, amoleceu meu coração. Com alguns sermões e alguns trocados pra doces, foi o pai ideal. O papai que amo. Talvez você se envergonhasse se agora crescida eu te dissesse isso, tentaria contar alguma piada pra descontrair o momento, como sempre fazia quando tentava disfarçar a timidez. Confesse papai, você era um anti-social dos bons. E eu estou quase lá.
   Me disseram pra lembrar das coisas boas que passei com você, e eu estou fazendo isso enquanto tento controlar minhas lágrimas de saudade. Estou tentando imitar o teu sorriso, aquele que ficava escondido no teu relaxismo com beleza. Apenas concluo que te amo, mesmo com uma distância do céu a terra, eu te amo. Mesmo com uma distância da vida a morte, eu te amo, entre quem ficou com o coraçãozinho batendo enquanto outro parava em uma noite de sábado, eu te amo. E mesmo nunca tendo dito em voz alta, sei que assim como eu, você também me amava, pois mais do que simples pai e filha, eu era sua garotinha. Brilhe aí onde estiver, pra eu te ter próximo nas noites de pesadelos e nos momentos de medo, mas principalmente em cada singelo segundo que eu me recordar de você.


Flávia Andrade

março 04, 2013

Quem é ela?

   Se tivesse uma mala, fugiria. Se tivesse uma janela, pularia. Se tivesse um muro, derrubaria. E na verdade tem tudo isso, mas não se mexe, não se move, não age. Conta que pra lá foi, que de lá veio, mas a mesmice continuando lhe afligindo. Diz que festejou, bebeu, até morreu. Contudo se morreu foi de sobriedade e tédio. Quem é ela? Aquela que estuda, trabalha, se envolve em graça. Quem é ela? Aquela que bebe, fuma, se desgraça, mas se recupera. Aquela é quem queria ser a personagem principal de seus contos? Aqueles em que a garota foge, vai pra outro país, conhece o futuro astro de Hollywood, viajam pra Las Vegas e bêbados se casam. Ou queria ser ela a fuga do conto, a escritora monótona? Quem é ela que tanto se disfarça e se mente?

Flávia Andrade

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março 03, 2013

Ultrapasso-me

   Digo, peço, faço. Necessariamente nessa ordem, pois tudo me resta à fazer. Quando digo, sou muda, quando peço, sou invisível e quando faço, a atenção vem crítica e negativiza meus deslizes. E se respondo, sou impaciente, ao me calar, então sou estúpida. Estou debruçando no eterno silêncio, que contudo grita em minha mente. Ao mundo nada falo e dentro de mim, ah, como eu queria que minha voz aquietasse... Meus dramas diários corroem a voz, o gesto e o sentimento que tenta cicatrizar do dia anterior, isso em um processo sem fim.
   Estou mais cuidadosa, repenso minhas palavras diversas vezes até chegar ao ponto em que ficará "leve" razoavelmente, porém enquanto insisto na mesma tecla, encontro os defeitos dela. E desisto de tudo, recomponho, mas deixo de lado novamente. Assim vou perdendo a voz, a vida própria. Perco e não supero, me acumulo de saudades minha, escrevo e transbordo em vão. Em meus passos estão as tonturas como devaneios insistentes e em tentativas de me levantar da cama reconheço o corpo velho de uma alma velha e mente velha, estou idosa com quinze anos. Ultrapasso-me.

Flávia Andrade

fevereiro 24, 2013

Pode ir

    Você pode por favor retirar este empecilho do meu caminho? Não a pedra, não o buraco, sim você. Retire-se. Está me incomodando. Saia do meu caminho! Não quero mais ser sua, não quero ter dono não, senhor. Então vá embora, pois nunca realmente te precisei. E quando for, leve tuas bagagens e malas, essas tranqueiras que alguns chamam de sentimentos, leve tudo aquilo que já acumulei por ti, algumas mágoas, alguns amores, poucas paixões, uns momentos de impactos vai levando em um caminhão. Leve como entulho e nem precisa cuidar bem, joga tudo amontoado e vai. Estou te largando, contudo não lhe acompanharei até a porta, estou te largando é pra ir embora sem me olhar, vai e não gaste tempo com palavras, pois vindo de você preciso mais delas não. E se me perguntar o motivo, é simplificado: "Cansei de te ser". E tecer, e ter que ser... Essa vidinha de fazer o que você mandava, de dizer o que você queria ouvir, de me manter no limite do que você tolerava. Cansei de fugir de mim para te alcançar, de me largar para te acomodar. Agora  é hora de partir, vai então com tuas tralhas e sem nenhuma preocupação, pois ficarei bem me sendo. E me acendo, e me reacendo. Me refazendo. Tudo bem.

Flávia Andrade

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fevereiro 16, 2013

Confissões de um apaixonado #3

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- Desculpa.
- Não há culpa.
   Levantou-se e sorriu. O que ela era? Um bicho de sete cabeças. Rotulei-a e foi assim. Ela não tinha as complicações de uma mulher, não tinha os defeitos femininos. Mas tinha seus assombros que eu talvez deva dizer: meus assombros à respeito dela. Contudo, às vezes a desvendava, mesmo que não sorrisse eu reconhecia sua felicidade e mesmo não chorando, eu notava quando havia algo perturbando-a. Porém era impossível decifrar seus pensamentos, enquanto eu apenas enlouquecia. Aquela garota atiçou-me no fogo brando e ardente, ela arruinou minha mesmice e monotonia, ela me mostrou o lado errado de estar certo.
   Enquanto bagunçava o meu cabelo e viajava em minhas loucuras, me questionava quando é que me apaixonei, inclusive, o que me fez desejá-la tanto? Eu gostava das coisas simples e agora estava me encaminhando para dentro de um furacão. Ela me drogou com seu sorriso melancólico e me entorpeceu.

Flávia Andrade

fevereiro 15, 2013

Confissões de um apaixonado #2

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- Não se aproxime muito de mim. - Ela pediu. - Digo, não crie vínculos afetivos. Eu não fui criada para isso.
 Estranhei. Do que diabos ela estava falando?
- Olhe, eu não sei o que está querendo dizer.
- Apenas não se apaixone.
- O que?
- Por mim. Não se apaixone por mim.
- Você está de brincadeira, não é? - Eu perguntei rindo.
- Não. - Respondeu séria.
- Claro que não irei me apaixonar. - Comentei com voz de desdém, porém... Havia um porém que eu desconhecia.

                                                                                                                           Flávia Andrade

Confissões de um apaixonado #1

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   Com o olhar atravessando a janela do meu quarto e alcançando a janela da sala dela, fitei-a escorada na parte de trás do sofá, conversando em seu celular e sorrindo. Por que ela nunca sorriu pra mim? Continuei olhando-a andando lentamente em círculos pela sala e soltando gargalhadas. O quão belo meus olhos enxergavam aquela cena? Eu estava me apaixonando, eu sabia disso.

Flávia Andrade

fevereiro 08, 2013

Só mais um pedido

  
  Tem muitas coisas que eu gostaria de dizer para você, mas as palavras somem. É horrivel. Os sentimentos afloram, eles fogem ao mesmo tempo em que me sufocam, mas não me permitem lhe dizer o turbilhão de pensamentos desesperados que me ocorrem. É uma loucura. E a verdade é que eu estou louca, não por você, pois isso sempre fui, mas estou louca pela falta que você faz ao meu lado e me impossibilita de receber um abraço todas as vezes que careço e preciso. Eu poderia, agora, te elogiar pela milésima vez, mas não farei, não citarei verdades sobre quem é, nem sobre quem sou. Quero manter as linhas de saudades que me acorrentam e tentar contar minhas ocorrências causadas por sua falta. Ocorrências de solidão, às vezes, de insônia sempre, de bipolaridade constantemente, de tristeza agora. Por que não vem pra cá ficar comigo? Larga essa vida aí, vem ter uma vida ao meu lado. Larga tudo enquanto não o posso fazer. Me tenha, me faça sua, me prenda a você, pois eu quero. Talvez isso pareça louco. E realmente é. Contudo, como eu inicialmente disse, obviamente estou enlouquecendo e apenas você pode me sanar. Diga alguma coisa, não suma assim, apareça, ligue, mande sms, me mantenha com pedaços de você. Não se distancie dos meus sentimentos, do que sou, do que me faz te amar. Não se distancie mais do que já está. Por favor. 
E quando vier essa semana, apenas me abrace...

janeiro 29, 2013

Fora do eixo


   Hoje os passarinhos cantando estão me incomodando, ontem estavam sem graça. Porém antes de ontem quando acordamos juntinhos, era o som mais bonito. A cama continua desconfortável, mesmo você dizendo que é a melhor que eu poderia ter comprado, adormecer e amanhecer sozinha, torna-a feita de cactos. O quarto está menor do que eu pensei que fosse quando o escolhi, talvez porque só agora parei pra observar as paredes, a falta do seu olhar me fitando mostrou o mundo que deixei de enxergar. A parede que era branca, agora está amarelada, talvez eu não saiba cuidar, assim como não soube aquele dia evitar a mancha de molho de tomate na sua camiseta branca. 

   Estou em silêncio como você odeia que fico. Eu odeio conversar, os diálogos nunca seguem meus planos e eu sou egoísta demais para largá-los. Como em nossa discussão a qual não era pra você ter dito "Viu? É aí que você se enganou", era pra me deixar livre pra ter razão. Isso me deprime, mas eu juro que mantive feliz - como pediu - até hoje cedo. Meu humor muda rápido demais. Meus dias mudam rápido demais. Nossa relação mudou rápido demais. Isso tudo me irrita... Eu sei que não estamos quebrados, apenas fora do eixo e é por isso que está tudo desajeitado. Sei que pediu um tempo, mas assim como os pássaros que agora me incomodam, a cama me machuca, o quarto pequeno me sufoca e tudo o mais, tua falta é a estrada de chão da minha caminhada, meus pés doem. 
   Volte pra mim, volte a ser minha estrada asfaltada.Volte a ser meu eixo exato. E então, podemos cantar Three Little Birds.

Flávia Andrade

janeiro 03, 2013

Conto de uma esquecida

  Eu procuro vestígios dele no meu quarto desarrumado, tento me convencer de que vou ficar bem, abaixo a cabeça chorando e o cabelo bagunçado esconde minha cara de terror. Eu penso que preciso me recompor. Ao tentar me levantar, sinto a tontura pousando em minha cabeça, junto de uma escuridão atormentadora que dura alguns segundos. Fecho os olhos e me escoro na cômoda, - como é que meu mundo desabou tão de repente? - Desisto de questionar novamente, as respostas nunca vieram, eu sempre soube que não haveria o que retrucar. Caminho até a porta e enfraqueço apenas de pensar em abrir a fechadura, agora tenho medo da minha própria casa, então volto para minha cama, me jogo e me desligo e desisto pela oitava vez nesse dia de sair do meu quarto depois de estar trancando a mim mesma há exatamente três semanas. Ninguém preocupou-se em vir perguntar o que houve, ninguém ao menos sentiu falta, apenas continuaram julgando meus possíveis  erros enquanto a dona da única e mísera verdade sou eu. Neste momento, as paredes brancas me atormentam e o silêncio fere meus ouvidos, a noite chegou e eu sei disso mesmo com  a janela e as cortinas fechadas, eu adivinho quando as noites chegam para me assombrar. Minhas mãos tremidas e fracassadas escrevem para desabafar, para tirar algum pouco de dor, mas é impossível me confortar. Meu corpo na cama, em minhas roupas, meu cabelo, tudo me agoniza. O guarda-roupas ainda têm alguns dos trapos daquele que se foi, o chão ainda tem uma garrafa e duas taças quebradas e as marcas de vinho junto do cheiro que agora me desalma. É impossível encontrar algum canto que não me faça recordar dele e também é impossível fechar os olhos e não me sufocar com lembranças, então me mato a cada segundo que permaneço aqui. Se em algum momento minhas pálpebras cansarem e meus olhos fecharem-se lentamente, em meu sono ele irá tornar-se um pesadelo, como nas últimas vinte e uma noites que tentei dormir, agora estou evitando com todas as minhas forças repousar. Levanto-me novamente e me aproximo da janela, o vento que sobra por seus pequenos buracos me arrepia e eu estremeço ao sentir os olhos marejando e friamente meu rosto arde por sentir lágrimas pela incontável vez caindo, me sinto fraca além de fisicamente, emocionalmente e creio que não sou capaz de suportar mais nada, me odeio por estar a um nível de não conseguir conter nem minhas lágrimas. Quem sou eu agora? Eu costumava sorrir até em dias de sombras, eu costumava ser forte ou ao menos achar que era forte... Até o dia em que tudo deu errado e agora eu sei que nem milagres podem me salvar enquanto eu continuar me auto destruindo e impossibilitada de me controlar.

Flávia Andrade

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