agosto 29, 2013

Delírio

   Intimamente tenho um sonho. A ilusão de que todo esse turbilhão que chamo de vida tenha sido apenas um pesadelo e que a qualquer instante eu acorde e todo o azar, marés traiçoeiras, temporais de decepções e vendavais de rancores que passei desapareçam. E então minha vida lapidar-se-ia no locus amoenus de um idílio.
   Sonho que de repente, por decreto, seja interditada a entrada de qualquer sentimento maligno para o meu viver saudável e por lei resolvidos todos os problemas e esclarecidas todas as dúvidas. E oras, por que isso não acontece? Por que deve ser tão utópico esse querer? Para quebrar a cara.
  Sim, fecho os olhos e penso em todas as maneiras e caminhos que minha vida tinha para dar certo e ela fez tudo ao contrário. Eu fiz tudo ao contrário. Fui para a esquerda quando o caminho certo estava na direita e quando deveria andar dois passos, regressei quatro. Eu disse sim quando a resposta era não. 
   Preciso de um ar. Tenho em mim a certeza incerta do mundo e a incerteza absoluta do mais ínfimo do universo. Tenho a utopia belíssima e a realidade melancólica. Preciso respirar. Sou um furacão de ideias não concretizadas e levo em meus ombros o peso de umas nove ou dez gerações. Onde se encontra ar nesse inócuo quarto escuro? Estou mesmo em um pesadelo? Deixe-me acreditar então, por um mínimo átimo que sim.

Flávia Andrade

agosto 14, 2013

   A iminência de minha alma afronta meu coração.

agosto 05, 2013

Regar

Amor,
rega a flor, rega a calma
a confusão renega, mas rega
o que crescerá, brotará
sucinto se encarrega
de fazer da semente oxalá
para ser carregada
no vaso, na cor, essa flor de sabor
de vida, de paz, outro caminho
que satisfaz
joga água para dar vida
nesse quiproquó, e avisa
que a flor já se revela
amor

Flávia Andrade

agosto 01, 2013

Outono

   "Eu via as folhas caindo das árvores, começavam lentas, mas já sem cor e de repente despencavam de uma vez no chão sem pena. Na verdade, até os pássaros pareciam sem pena. Não havia mais plumas coloridas e diversas nesse mundo. Restavam aquelas de cor ocre como se queimadas e machucavam meus olhos. Minha visão poeta observava as lágrimas nos galhos por perderem seus bens preciosos, cuidava o chão esperando pela sua felicidade, mas ele não se importava com a folhagem velha que apenas o sujava. De repente o mundo se tornou todo aquele amarelado de foto antiga que precisávamos revelar sem saber o que sairia no resultado. Eu não soube mais o que esperar do futuro.
  Ela agia como uma folha caindo e amargamente machucava meu coração. Pois eu havia cuidado-a como um galho cuida de sua flor e não estava preparado para vê-la se soltar de mim. Era isso, aquela menininha havia decidido se libertar de mim, desfazer o nó. Nesses dias ela me gritou:
- Preciso de ar. Meu ar! Não respire ao meu lado, me deixe sozinha. Ar! – E  saiu pra bem longe, voltou só à noite e ignorou que meu ar ainda pertencia na camisa minha que ela vestia.
   Eu era um galho sendo descoberto de todo o verde maravilhoso."

Flávia Andrade
No livro "NATASHA"
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