agosto 31, 2014

Intercalação de um lugar só para dois inconsequentes

Sem explicações. Avisto-o, levanto-me e vou para casa, não me despeço dos outros para a saída não ser dramática. Sem demora, ao chegar há somente o vazio, sem tristeza desmarco encontros para que não tenha desencontros, desfaço o que poderia ser certo antes que seja errado. É solidão? Talvez, mas considere o cansaço de sofrer. Sem sossego, sem paz de espírito, sem calma, porém em um retrato falho onde tudo ficou branco: quem vê, nada vê. Sem passos e gritos bêbados, apenas a sobriedade que tenta se auto compreender.
Mais alguns minutos, esforço-me para aprender novos estilos de poesia, outra receita, datas que não decoro. Até que acontece: ouço-o partir e volto ao que também é meu. O canto ficou pequeno para tudo o que houve e a plateia também o lota. Chego de mansinho, pedindo perdão em silêncio, compreendam minha calma, não há mais choro, quando ele chegar outra vez eu vou embora.

Flávia Andrade

agosto 28, 2014

Sou. Oscilando entre quem fui e quem serei. Sou. Duvidando entre o que pensam e o que planejo. Sou. Permitindo o que aconselham e o que rejeitam. Sou. Sem mais, nem menos, sou entre metades, nem por inteiro, nem faltando ou restando, sou na medida do possível. Sou sem saber quem sou, incerteza imediata a cada amanhecer, arrependimento existencial a cada ressaca, sou quem não quis e não quero ser, mas o que posso.

Flávia Andrade

agosto 26, 2014

Perdoa a loucura de querer tão fácil um alguém que simplesmente diz coisas bobas. Perdoa o apego imediato por quem sorri sem motivo. Perdoa por me arriscar tanto numa frase mal planejada apenas por medo de não ser o suficiente, por mais que o exagero seja pior. Perdoa o clichê disfarçado de ironia, perdoa os caminhões de desejos que despejo em cada novo alguém. É essa intensidade momentânea que preenche meus dias, traz segurança em meio a tantos medos de nunca amar ninguém.

Flávia Andrade

agosto 24, 2014

Não sei te odiar, meu amor não vira repulsa. Se me fez chorar um dia, as lágrimas que já caíram não voltam mais. Se me fez cair, não tropeço mais naquele chão e nem o acuso. Apenas sigo um caminho diferente que talvez tenha obstáculos também, mas as quedas me trouxeram coragem. Também não deixarei de amar qualquer outro alguém por medo de sofrer, eu quero que dê certo um dia. Vou embora quando você chegar, pois já foi caos o suficiente, vou olhar só para os novos, para quem merece boas emoções.

Flávia Andrade

agosto 22, 2014

Meu bem, nós somos tantas canções e palavras oblíquas. Lembra aquela que diz "nós dois temos os mesmos defeitos", pois então, você aponta os meus e justifica os seus. "Eu levo a sério, mas você..." desgraça, meu bem, você desgraça toda a graça de gostar de alguém, gostar de você. Desculpa se estou sendo repetitiva, sabe algo que repete mais ainda? Nossa história. Nem deve saber, pois eu que me sofro de matar por aqui, pois se disser que me mato de sofrer você reclama da melancolia. Não posso nem ser triste, pois você é infeliz com o próprio azedume e se recusa a ver outrém no mesmo entulho de ruindades.
Mas eu estive aqui, meu bem, como aquela menina do Renato Russo, "era quase escravidão, mas ela me tratava como rei". Juntei cada desaforo e voltei todas as vezes, voltei pra me reconhecer, voltei pra te rever. Tantas voltas que você viu, mas não olhou para as idas. Disfarçou, fingiu, mentiu para nós. Tudo bem para você, certo? Afinal "nós" nunca existiu. Só uns momentinhos em cantinhos da sua vida. Nunca foi de verdade, nunca te roubou da realidade, foi meio termo, morno, aquilo que fica uns minutos e depois não faz falta. 
Mas, veja bem, sinto lhe informar que na minha vida isso, esse nós inexistente, preencheu todo o espaço que estava vazio naquele tempo, não foi uma visitinha, acampou, fez morada, construiu um prédio. Agora tá aqui, não consigo derrubar e destruir. 
Mas sobre o que eu estava dizendo? As canções, tenho mais uma para você, essa é segredo, não escutarei tão alto, não cantarei ao seu lado, essa é pra te esquecer.

Flávia Andrade

agosto 16, 2014

Não sou uma cena, um encontro, uma situação. Não sou palavras de outra pessoa, histórias de um inventor, confissões de um mentiroso. Não sou o que se vê em duas horas, nem três dias. Não sou primeira impressão e nem última, não sou o que se vê. Sou emoções a flor da pele, intangível e introspectiva. Não sou quadro, poesia e nem trecho de música, minha vida até pode ser um seriado, uma comédia dos 90, mas não me veja de uma maneira só. Não tente nem ver, não encare para não perder os outros sentidos, não procure o que não se esconde, apenas não se mostra. As manias são intrínsecas, mas a avidez de não ser uma só é muito mais, não pense que um camaleão tem uma cor só. Eu sou emoções e momentos, sou instantes e tempo perdido. Deixa acontecer, deixa eu me ser.

Flávia Andrade
Não há medo para que vejam minhas superficialidades e maldades, não temo que acreditem na invenção de outrém, que ando relaxando e morrendo por aí, talvez matando, manipulando, sendo ruim. Mas aqui dentro, quem em mim escreve outra história teme mostrar a felicidade sincera, não diz nunca que ama e que sente, sente muito por cada um, que sofre e chora, que tem tantas preocupações, não quer que desvendem a ilusão além dos personagens. Tem medo de se mostrar sensível, vulnerável, prestes a desabar, mas é tudo o que é.

Flávia Andrade

agosto 14, 2014

Mais uma tentativa. Respiro fundo, penso nas garrafas vazias, na casa vazia, no copo vazio, na mente cheia. Parece que tenho só mais uma chance, gosto de lidar sob pressão: agora ou nunca, mas sei que tenho o resto da vida para fazer o que tenho que fazer. Bato o pé por birra ou charme, porque tem que ser agora: um texto que não seja para você, um indício de superação, um "deixar para trás". Mas olha, já está indo em sua direção, já virou uma indireta que faz curva, passa por chuva e chega despedaçada ao seu endereço.
Mais uma vez, escrever é simples, amar é complicado, escrever amando é um inferno. Mas amo também o inferno, a loucura de sentir e transformar em palavras desencorajadas. Gosto de pensar naquela rua, são tantas ruas, tantas histórias, mas uma delas só tem você. Assim como meus textos e as músicas que ouço, e as músicas que você ouve, e as músicas que tocam naquela rua, e os filmes que assistimos, as novelas que odiamos, tudo é você.

Mais uma chance. Andei o quanto quis, não cheguei onde planejei, mas tentei. Tentativas são certezas de falhas, caso contrário não seriam plural. Quase atropelada por um carro, com fome, sem lágrimas, desnorteada, vilipendiada, com uma palavra nova no vocabulário, palavrões velhos em grande uso, lembranças misturadas com expectativas futuras quebradas, mas tentei. Andei para outro caminho, quase uma estrada, só não tinha destino, era sem fim. Mas eu pensei: vou voltar, sei bem lidar com isso, sei ter fim, vou escrever mais um texto e não vai ser pra ninguém.
Só tentei.

Flávia Andrade

Com tantas cores quem é suficientemente acomodado na escolha de enxergar somente o preto e branco? Podemos nos conformar com risco no carro, maquiagem borrada, amor não correspondido. Mas por qual razão se conformar com a tormenta da melancolia? Quem pode ser monotonia ambulante?
É muito desperdício para os outros lados, estradas, rumos. São esnobes com as oportunidades aqueles que não se deixam levar por acasos, não tem, ao menos, o prazer de às vezes errar a direção. Seguem reto. 
Considere a vida toda uma literatura: Linhas retas estão aqui para serem escritas com suas fontes e tamanhos diferentes, o vazio delas nos convida para quebrar regras, sair da margem, apagar e até rasgar (se for o caso vândalo inocente). Linhas retas não merecem ser seguidas como são, precisam de mudança, letras desajeitadas, rabiscos espontâneos. 
Tudo tem milhares de opções. Por que estamos sempre aproveitando uma única e igual? Somos podres e desastrosos se somos assim. Não somos suficientes para nós mesmos, precisamos ir além.

Flávia Andrade

agosto 09, 2014

Daqui, um pouco longe, algumas vezes por semana, raramente em dia de chuva, disfarçadamente (e falha), observo-te. Olho como quem te espera, escondo-me pois não sou quem você procura, sou sombra de outro alguém melhor. Mas paro e fico a espiar você e o dia que vem vindo, o dia em que o vento soprará seu perfume só pra mim.
Mas em outros dias, bem de perto, quase nunca, principalmente no frio, olho-te nos olhos como quem te deseja, você vê, acredita e é recíproco, então os outros dias em que somos do mundo não importa, somos só de nós no meio desse vento gelado que alcança nossos rostos aquecidos.
São tantos os dias em que nada vai bem, enquanto os poucos dias que os olhos brilham são cheios de ego e relembram-se em cada choro dos outros. Eu mantenho você por perto por algumas horas e a alegria disso inunda o resto dos meses.

Flávia Andrade
   O braço não se deu a torcer. Nem foi culpa minha, são instintos, nada se move se você manda. Bati o pé, não sabe o que diz! Ouça-me, não é bem assim. Retruquei o quanto você aturou, sabe outra coisa? Eu atirava em seu lugar, matava logo essa menina impertinente. Mas descobriu a paciência aos vinte anos e é outro alguém, o alguém que eu amei e por te amar, não quis te deixar ir embora me dando conselhos tão bons. Então eu teimei, disse que não os seguiria, quem é você para saber mais da minha vida que eu? Nem quis permanecer. Você estava sendo bom, mas eu contei que foi muito ruim comigo. Severo? Até que é verdade, de resto eu menti, teve boas intenções sim. Mas cadê o amor que sentia? Quer que eu deixe para outros? Não é justo.
De uns dias pra cá, entre a saudade e o cansaço de sentir sua falta, entre o apego e o desapego, entre sua rua e a rua de outro alguém, eu me questionei: "por que é que não vou ser feliz como ele disse?". Então você passou sorridente, e meu braço não se deu a torcer, eu fingi ser feliz também. E de lá pra cá, isso virou verdade, seu poder sobre mim vem até de longe e eu sorri sinceramente pelo resto dos dias em que te esquecer foi mero detalhe.

Flávia Andrade

agosto 07, 2014

Aquieto a mente. Silenciosamente o coração para de gritar também. O mundo (que estava dando voltas e meias sem completar nenhuma) sossega. Esse momento, agora, é brecha para um dos infinitos que a vida tem.


Flávia Andrade

Não me tire da rotina de pedir: toca Raul, de dizer: mais um chopp, e de, sem querer, deixar escapar: quero te ver. Deixe-me na mesmice de cantar que sou metamorfose ambulante, talvez esteja mais próxima da mudança. Não me roube a ingenuidade de procurar malícia em tudo, não furte minha maneira desligada de caminhar, sou apenas mais um alguém que sonha com os pés no chão. Deixa a monotonia permanecer (se ela ainda for bonita), só me tire disso quando as escapatórias virarem casa e não restarem outros abrigos.

Flávia Andrade

agosto 04, 2014

Quando saiu de casa ainda tinha um foco e um rumo, veria quem tanto quis e nada mais interessava. Mas de uns minutos pra lá, quanto mais andava menos queria chegar, começou a sentir uma dessas coisas de não se sentir o suficiente, começou a se achar só uma gentinha sem jeito querendo cuidados de restos de outro alguém que se entregou pra uma pessoa mais sortuda. Parou os pés, acelerou a mente, nisso o choro veio e virou toda aquela cena de quem se arrepende de não ser o que planejou quando era criança. Coisas que acontecem quando se vive esperando muito e ganhando pouco. Que mal tem em ter o mínimo? Que mal tem em arriscar no máximo? Lembrou que tinha um bem muito maior em si e não queria sofrer por quem ilude. Relembrou que era mais forte do que imaginavam e foi, sem querer provar nada pra ninguém, para onde ria e ia sem motivos, sem esperanças, lá era certo que estaria feliz.

Flávia Andrade
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