maio 10, 2017

Das distribuições incoesas

E como as roupas boêmias soavam patéticas, nunca em outras pessoas, apenas nele, ecoando “magistral” como elogio ao cânone literário brasileiro – que nada mais é que sua virilidade acadêmica a ser empalada nos alunos. E os olhos deles todos derretiam para o chão em sono com a memória trabalhando atônita. “Vocês devem esquecer para lembrar”, ressoava, ressoava, ressoava, “esquecer para lembrar”, mas sabiam que se não fossem Funes, o memorioso teriam em troca somente uma nota muxoxa por quem não admite existir no mundo alguém que não tenha lido Borges e ainda assim seja melhor. Como o dia não acabava na sala das portas de vidro e anoitecer pendendo afora, aquário morto para borboletas cintilantes. Como o outro não se calava com as vestes imitadas e um pedestal na mochila para aos pés de seu professor a cada vez que fosse se referir com o mesmo vocabulário exaustivo e vicioso. Vocabulário de quem não vive, palavras mortas para ouvintes semivivos. As teorias perpassadas por “né”, os gritos dignos de um pastor da Igreja da Graça de Deus ou da Assembleia do Malafaia, mas nunca dignos dos meus ouvidos e eu saía do lugar para me encontrar como bem me entendia. Tinha sempre de voltar e a hora no relógio era sempre a mesma. Borges, Clarice, memorizem, esqueçam, memorizem o que eu sou incapaz de lembrar, humanos-máquinas para o rei desta categoria da humanidade: o humano-inútil.  
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